O Papa Na Terra Santa:
Essa passagem do Santo Pontífice pela Terra Santa, especialmente a Jordânia, Israel e Cisjordânia funcionou como uma realização
mística e pessoal de um velho peregrino. Percorrer as margens do rio onde Jesus foi batizado, a cidade onde cresceu, os lugares
onde rezou, foi traído, morreu e ressuscitou.
A seguir comentários de especialistas sobre essa viagem do Papa e trechos de reportagens desse período:
Lúcia Padilha / Prof. De História: O Papa João Paulo II esteve visitando o Estado de Israel com a finalidade de ser apenas
então somente um peregrino. Mas é claro que se tratando de um chefe de Estado, e ele assim foi recebido, qualquer ato por
ele praticado será considerado um ato político apesar dele ser um Papa se celebra missa, que lê o Evangelho, que fala de passagens
da vida de Jesus. Mas todo e qualquer pronunciamento do Papa terá implicações políticas!
O Papa começou a viagem histórica pela Jordânia, durante uma semana, João Paulo II refez os caminhos de Jesus na Terra
Santa.Na chegada a capital da Jordânia, Amã, o Papa foi recebido pelo rei Abdula e abençoou o solo do país. Em vez de beijar
o chão como fazia antes, João Paulo II tocou um pote cheio de terra. O Papa pediu o fim das injustiças e das violações dos
direitos humanos para ele só assim haverá paz no Oriente Médio. No memorial a Moisés, João Paulo II disse que espera que
a viagem aproxime Cristãos e Mulçumanos.
O Papa pediu mais diálogo entre católicos, judeus e mulçumanos. Antes de viajar para Jerusalém, ele celebrou missa em
Amã, a capital jordaniana. 40 mil pessoas assistiram a missa rezada pelo Papa na Jordânia. João Paulo II pediu o fortalecimento
dos laços entre a igreja católica e as outras religiões. Depois foi a uma vila onde, segundo os jordanianos, Jesus fora batizado.
Os israelenses contestam e dizem que o batismo aconteceu no território hoje ocupado por Israel. O Papa não tomou partido na
disputa. No fim da tarde, João Paulo II chegou a Israel. No discurso falou sobre preconceito foi uma resposta indireta a
uma acusação que dificulta o diálogo entre o Papa e os judeus que é a suposta indiferença da igreja católica a o holocausto,
o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Juntos cristãos e judeus, disse o Papa: precisam fazer um esforço
corajoso para remover todas as formas de preconceito; Precisamos nos empenhar para mostrar a verdadeira face dos judeus e
do judaísmo e igualmente dos cristãos e cristianismo. O Papa pediu paz entre palestino e judeus na Terra Santa.
Disse o jornalista da Globo Tônico Ferreira: É uma viagem corajosa de João Paulo II. Ele enfrenta perigos e preconceitos.
O último Papa que esteve na Terra Santa foi Paulo VI em 64 , mas ele só focou 12 horas e visitou apenas lugares cristãos e
em nenhum momento citou em público o nome de Israel. Já João Paulo II esteve em Jerusalém antes de Paulo VI. Em 62 um padre
filmou por acaso o então bispo polonês Karol Wojtlya saindo de uma igreja: uma viagem de peregrino, sem a pompa e as responsabilidades
de hoje.
Religião e política se misturaram na visita do Papa a Terra Santa. João Paulo II fez questão de mostrar apoio ao povo
palestino. O Papa peregrino seguiu os passos de Cristo na Terra Santa: as margens do rio Jordão viu o local onde segundo os
israelenses Jesus foi batizado. Rezou um missa na praça da manjedoura em Belém; na igreja da Natividade meditou no lugar onde
Jesus teria nascido; ao chegar na região administrada pelos palestinos fez um gesto que não será esquecido: Beijou um punhado
de terra pela qual os palestinos lutam há anos. Os israelenses não ficaram felizes. Ao lado do líder Yasser Arafat fez uma
apaixonada defesa da criação do Estado Palestino. Disse o pontífice: Ninguém pode ignorar como o povo palestino sofreu nas
últimas décadas. Ele lembrou que o Vaticano sempre reconheceu que os palestinos têm o direito natural a uma terra natal e
o direito de viver em paz e em tranqüilidade com outros povos da região. Em uma manifestação de judeus ortodoxos, João Paulo
II foi chamado de Papa do Hamás.
No quarto dia de viagem pelo Oriente Médio o Papa lamentou a perseguição cristãs aos judeus. Mas frustrou os ortodoxos,
pois não pediu desculpas pelo silêncio da igreja católica diante do holocausto.
O Papa foi a um dos lugares mais sagrados de Jerusalém: o cenáculo, onde teria acontecido a última ceia de Jesus com os
apóstolos. Depois um compromisso histórico: a visita ao memorial das vitimas do holocausto – o extermínios de judeus
pelos nazistas. Muitos judeus acham que Pio XII, Papa durante a Segunda Guerra, teria sido indiferente ao holocausto e esperavam
um pedido de perdão de João Paulo II. Isso não aconteceu, mas a condenação foi firme: Não há palavras suficientemente fortes
para deplorar a terrível tragédia do holocausto, disse o Papa! Enquanto isso na porta do memorial, judeus ortodoxos, fizeram
um protesto contra o Papa.
Lúcia Padilha / Prof. De História: Quando chegou diante do memorial do holocausto, havia uma expectativa dos judeus de
que o Papa se manifestasse de maneira mais veemente pró Israel. Isso poderia ser feito reforçando e ratificando o pedido de
desculpa que o Papa fez recentemente em relação ao genocídio. Então é claro que depois do Papa ter dito que os Palestinos
têm o direito natural a uma pátria, os israelenses queriam um pronunciamento similar, na mesma proporção que mais ou menos
zerasse a presença do Papa em Israel. Ou seja, um apoio a ambos os lados! E o que o Papa fez foi ratificar a compaixão em
relação a algo que é o grande crime do século XX: o holocausto com o extermínio de 6 milhões de judeus, dentre os quais estão
os 3 milhões de judeus mortos na Polônia o país do Papa.
O Papa também celebrou uma missa pelos fracos e perseguidos na Galilea, Israel, foi uma missa especial para os jovens.
Fiéis acompanharam a missa, bandeiras de vários países se misturavam a cartazes com apelos políticos. O maior evento da viagem
de João Paulo II a o Oriente Médio aconteceu no Monte das Bem Aventuranças, onde Cristo fez o Sermão da Montanha. No Sermão,
Jesus, abençoou os pobres, os humildes e os que promoviam a paz. O Papa pediu aos peregrinos que divulgassem a palavra de
Deus pelo mundo. Depois João Paulo II se encontrou com o primeiro ministro de Israel, Ehud Barak. Este afirmou que a visita
aproxima cristãos e judeus. O Papa também visitou pequenos santuários cristãos, entre eles o lugar onde teria acontecido o
milagre da multiplicação dos pães.
No Monte das Oliveiras, em Israel, o Papa lembrou o sofrimento de Jesus Cristo antes da crucificação. No sexto dia da
viagem a Terra Santa, o Papa fez um apelo em defesa da família. O Papa entrou em Nazaré protegido por 20 mil policiais e seguranças.
A cidade onde Jesus viveu e cresceu, hoje é tensa, dividida entre uma maioria islâmica e uma minoria cristã. João Paulo II
foi a Igreja da Anunciação e visitou a gruta que fica no subterrâneo, o lugar onde, segundo a bíblia, o anjo Gabriel teria
aparecido a Maria para dizer que ela seria mãe de Jesus. Em sua pregação João Paulo II evitou temas controvertidos que pudessem
provocar mais divisões entre mulçumanos e cristãos. Fez ainda um apelo em defesa da família e da dignidade humana. Depois
o Papa visitou um pequeno pomar no Monte das Oliveiras. João Paulo II rezou no lugar onde Jesus teria meditado antes de ser
preso e crucificado. O Papa cochilando mostrou sinais de cansaço.
Lúcia Padilha / Prof. De História: Acredito que é impossível o Papa ir a alguma localidade e atrapalhar. Os 22 anos o
mostram. A história do Pontificado de João Paulo II mostra que ele vai ganhar o legado de um dos grandes artífice da paz desse
final de século XX e nesse início de Terceiro Milênio que se inicia no próximo ano. O Papa tem essa capacidade de por autoridade
moral, por ser eclético e ecumênico, mas nem por isso deixar de dizer aquilo que ele pensa, embora o que ele pensa muitas
vezes gere inúmeros debates, antagonismos... o fato é que esse Papa, ao meu ver, é o Papa da Paz!!!
O Papa João Paulo II encerrou a peregrinação a Terra Santa com gestos de reconciliação com os Judeus na cidade antiga
de Jerusalém. O Papa celebrou uma missa na Igreja do Santo Sepulcro, o templo mais venerado do cristianismo, onde Jesus foi
crucificado, sepultado e depois ressuscitou. João Paulo II também esteve no Muro das Lamentações, o lugar bíblico dos judeus
destruído pelos romanos no ano 70 depois de Cristo. Ele pediu perdão a Deus pelo sofrimento do povo judaico... no fim da tarde
dando sinais de muito cansaço o Papa fez uma segunda e inesperada visita a Igreja do Santo Sepulcro para fazer uma última
oração antes do embarque para Roma.
Lúcia Padilha / Prof. De História: É claro que o aspecto religioso ficou em segundo plano. Mas o que é impressionante
é o Papa ter conseguido preservar em meio a uma viagem de seis dias, que tudo indicava que ia ser usada exclusivamente para
fins políticos, ele conseguiu preservar a viagem de um peregrino a Terra Santa, pois é isso também que o Papa foi fazer no
Estado de Israel... foi visitar os lugares santos, por onde passaram personagens bíblicos do antigo e do novo testamento,
como Moisés, como Jesus, como a Virgem Maria no momento da anunciação e tanto outros. O que é impressionante e prova o dado
carismático desse Papa é que ele conseguiu em meio a tantas implicações políticas e até distorções de pronunciamentos, por
ele proferidos, ele ter preservado a viagem de um peregrino a Terra Santa que estava exercendo e exercitando a sua fé.
Sabemos que o Papa João Paulo II não é um simples peregrino. Líder espiritual de 1 bilhão de pessoas, ele se tornou desde
que assumiu o comando da Igreja Católica uma personalidade política respeitada em todo o mundo. Por isso, onde passou foi
recebido por judeus, árabes e palestinos como um amigo e cada gesto seu foi interpretado como um sinal de apoio a causa de
cada um. Ainda que nenhum acordo ou tratado tenha sido assinado não resta dúvidas de que a viagem se revestiu de um grande
significado histórico.
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